terça-feira, 12 de julho de 2011

Entrevista: vereador Marco Aurélio Cunha (DEM-SP)





Em entrevista exclusiva ao Brasil Diário, o vereador Marco Aurélio Cunha (DEM-SP) disse acreditar que a abertura da Copa do Mundo de 2014 será em Belo Horizonte.

Ele argumentou que a escolha será "por afinidades políticas e, evidentemente, falta de simpatia por São Paulo do comitê organizador da Copa", já que, na opinião do vereador, Ricardo Teixeira, presidente da CBF - Confederação Brasileira de Futebol, não gosta de São Paulo.

O vereador aproveitou a oportunidade para se posicionar contrário à isenção fiscal de R$ 420 milhões para a construção do estádio do Corinthians, o Itaquerão, candidato a receber a abertura da Copa de 2014. Para ele, esse incentivo é "volumoso demais".

Marco Aurélio Cunha ainda criticou a escolha da Zona Leste para receber o evento e salientou que, antes de um estádio, a região necessita de infra-estrutura. "Primeiro têm que entrar lá todas as operações urbanas, todo o desenvolvimento social, transporte, educação, saúde, enfim, todas as áreas carentes que lá existem, para aí sim abrigar a Copa", opinou o parlamentar.

No entanto, ele garante: o evento vai acontecer. "O evento vai sair, por que põe polícia, cria corredor com batedor, faz uma série de intervenções excepcionais na região e funciona. Funciona em Interlagos, funciona em Pirituba, se fizer lá. Acabou o evento, volta tudo à estaca zero", concluiu o vereador.

Clique no link abaixo e confira na íntegra a entrevista com Marco Aurélio Cunha.




 
Por que você é contrário à isenção fiscal ao Itaquerão?

Na verdade, não é isenção, é incentivo, que alguns falam “inventivo fiscal” e alguns falam “donativo fiscal”. Tem esses dois apelidos já oferecidos ao projeto. Acho que está se usando a Zona Leste como pano de fundo de desenvolvimento, de um projeto que vem desde 2002, ou 2004, que cria uma zona de incentivo à Zona Leste, para levar para lá todas as melhorias que a região não possui, seriam serviços, empresas e tudo mais. Só que tudo isso foi feito e, embora a lei exista, até agora ninguém criou realmente um pólo de desenvolvimento sustentável para a Zona Leste. Utiliza-se a imagem da Copa do Mundo e do estádio, especialmente usando a abertura da Copa, que é mais grave. O próprio presidente do Corinthians diz que (estádio para) 45 mil (torcedores) ele faz, mas para abrir a Copa do Mundo ele precisa de mais, precisa de capacidade para 65 mil torcedores. Para elevar para 65 mil, se entrega R$ 420 milhões em incentivos fiscais a serem resgatados. Aí vem: “não, mas só quando o estádio estiver concluído”, se a abertura da Copa for em São Paulo. Se não, não é. Por que o pólo gerador de economia que eles alegam, o secretário Marcos Cintra deu uma aula bastante didática, bem professoral, dizendo que gerarão recursos da ordem de um bilhão de reais, sendo a abertura aqui. Ora, eu estou dando um incentivo hipotético, “se a abertura for aqui”. Segundo, no texto está escrito “estádio apto à abertura”. “Apto” não significa que a abertura seja aqui, ele pode ser um estádio que está dentro dos padrões Fifa para a abertura, mas politicamente ser rejeitado e ser, por exemplo, em Belo Horizonte, onde eu acho que vai ser, por questões de informação. Um estádio apto, ele é apto, mas não foi escolhido. Onde está o pólo gerador de economia que vai compensar esses R$ 420 milhões se a Copa não for aberta em São Paulo? Então, já é um condicional, e no texto, uma pegadinha: “apto a”, que eu fiz questão de pedir para mudar, é condicional à abertura. Nós vamos emitir CIDs – Certificados de Incentivo de Desenvolvimento, que serão válidos ou não, dependente da abertura ou não. Então estamos emitindo um papel hipotético, cheque voador no mercado. “Ah, mas só vai valer se o estádio estiver pronto”. Então, quem comprar está comprando um papagaio mesmo, sem estar sabendo. Isso gera a interpretação de que quem está comprando esse CID, é para gerar um dinheiro que não existiria, aplicando em papéis que poderão virar pó. Porém, eles ficam, o dinheiro passa a ter credibilidade. Ou seja, “eu comprei esse CID, ele virou pó, mas eu paguei por ele e o dinheiro entrou”, estou dando origem a um dinheiro que pode virar pó, que não tem importância. É muito preocupante essa colocação. E ao mesmo tempo, é dinheiro público, não adianta dizer que isenção fiscal, ou incentivo fiscal, dinheiro a receber abdicado não é dinheiro público, claro que é. “Ah, mas vai gerar...”, onde é que está o estudo técnico disso? Vem aqui um brilhante secretário e cria o desejo, mas eu não vi ainda alguma história pautada em exemplos anteriores. Ele baseou-se por onde? Pela África do Sul? Ou pela Grécia que está quebrada? Ou por Barcelona, que foi um sucesso? Ou pela Alemanha? Eu quero saber de onde vem esse estudo que gera essa economia toda, especialmente na Zona Leste, até por que, esses CIDs poderão ser descontados em qualquer pagamento em qualquer região da cidade. Acho que é um artifício, é para fazer um estádio com dinheiro público, um bem privado, eu sou contra.

Por que você acha que a abertura da Copa do Mundo será em Belo Horizonte?

Por afinidades políticas e, evidentemente, falta de simpatia por São Paulo do comitê organizador da Copa.

Ricardo Teixeira tem problemas com São Paulo?

Ricardo Teixeira não gosta de São Paulo. Ele vive o Rio, vive aquele ambiente que o Rio, realmente, de forma bonita, sugere. E São Paulo sempre foi muito crítica, é uma linha editorial crítica, difícil. E ele gosta de quem, evidentemente, tem por ele, toda aceitação, coisa que São Paulo não tem.  Esse é o grande problema.

Se houver a garantia de que a abertura vai ser em São Paulo, você é favorável a esse incentivo?

Não sou por que ele é volumoso demais. Se o presidente Andrés diz que para 45 mil pessoas ele já fez, eu acho que para aumentar em 20 mil pessoas, R$ 420 milhões é muito. Se ele alega que o estádio não vai passar de R$ 700 milhões, então peraí. Se não vai passar de R$ 700 milhões, por que R$ 420 mi, sendo que ele já disse que para 45 mil ele tem? Não estou entendendo essa conta, essa conta não fecha.

A principio, houve uma garantia de que não haveria dinheiro público nessas obras...

Todo mundo falou, à exceção do entorno e tal. A ponto de que o São Paulo, uma vez condicionado a R$ 600 milhões à sua reforma do Morumbi, honestamente abdicou, “essa conta eu não posso pagar, R$ 600 milhões é muito para nossa instituição”. Em nenhum momento se criou recursos para o São Paulo amortizar esses R$ 600 milhões em um estádio pronto, em uma região já desenvolvida, com todos os equipamentos necessários: hospitais, rede hoteleira, tráfego, mobilidade urbana, metrô chegando em 2012 ou 2013. O que faltava ao Morumbi? Nada, faltava uma obra para ser construída a toque de caixa, gastar uma porção de dinheiro pago pelo serviço público, faltava isso para fechar a conta de necessidades do comitê local e da Fifa.

Por que o Morumbi foi excluído?

Acho que ele seria excluído de qualquer forma. Se atribui a isso a um desentendimento político entre o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Realmente, esse desentendimento houve, quando da luta pelo Clube dos 13, hoje dilacerado. “Já que não venci, vamos acabar com ele”, foi esta a proposta do presidente Ricardo Teixeira. Fosse o seu candidato, à época o antigo presidente do Flamengo, Kleber Leite, o vencedor, o Clube dos 13 estaria vivo até hoje disputando as cotas de televisão. Como não foi, então se erradicou o Clube dos 13 da negociação. Com essa derrota do presidente Ricardo Teixeira para o presidente Juvenal, abriu-se a polêmica de que o Morumbi seria excluído da Copa do Mundo. É verdade, mas na minha opinião, seria de qualquer forma, por que onde não se gasta dinheiro, não se faz Copa.

São Paulo ainda corre o risco de ficar fora da Copa?

Acho que São Paulo fora da Copa é a Copa não existir no Brasil, por que aqui estão todos os grandes investidores, patrocinadores, o gasto maior, o cidadão que pode consumir, gastar, frequentar... O turismo local é muito forte. Mas nada impede São Paulo de ficar fora e fazer em Salvador, Rio de Janeiro e se criar uma Copa sem São Paulo. Acho que para quem é patrocinador, para quem banca o evento, vai ser um golpe, mas não sei se a Fifa está preocupada com isso. E também não vejo mais nenhum motivo para a cidade morrer pela Copa do Mundo, um evento bonito, evidente, que dura vinte dias e depois, o legado está aí, de países que construíram os estádios e não sabem o que fazer com ele. Aja vista, por exemplo, a Eurocopa em Portugal, vários estádios sem utilidade. A gente vai à Grécia e vê algumas áreas também sem utilidade e a crise econômica. Você vai à China, depois da Olimpíada, e vê que até o Ninho do Pássaro vai ser desarticulado para fazer outra coisa. Então, precisa pensar muito bem, por que esses grandes eventos, eles formam a imagem de um país, divulgam o país fora, é bonito, todo mundo quer acompanhar, quer ver, é uma grande festa mundial. Mas precisa ver se a conta a ser paga vale a pena. O Canadá terminou de pagar agora a Olimpíada que eles tiveram. Então, será que é tão fomentada, assim, a economia? Ou será que o débito não é maior do que o lucro? Ainda tenho dúvidas quanto a isso.

O dinheiro dos cofres públicos para essas obras seria melhor investido em infra-estrutura?

Pensando em Zona Leste, sem dúvida alguma. Agora, quando você faz uma Fórmula Um, que já está pronto o circuito, que só aprimora um pouco a cada ano, o dinheiro que vem compensa. Quando faz uma Fórmula Indy na cidade, a primeira, a segunda podem não dar lucro, mas a terceira e a quarta dão, já são provas recorrentes, calendário anual, isso gera lucro. Agora, você faz uma vez, a cada quatro anos faz uma e nunca mais você vai ter outra, eu não sei se a geração de recursos é tão grande assim pelo investimento feito. Acho que o investimento feito nessa área, de divulgação, é bom, mas se for um evento ruim, é pior ainda. Então, não sei se o gasto público nesse evento, pontualmente, compensa aquilo que vamos receber em termos de menção mundial e de captação de recursos, é uma dúvida.

A Zona Leste é um bom lugar para receber a Copa do Mundo?

Acho que não, honestamente, acho que não. Gostaria que fosse, se a gente fosse fazer uma Copa em 2020, 2022, e a gente, em doze anos, dez anos, programasse a Zona Leste para receber a Copa do Mundo, aí seria. Por que primeiro têm que entrar lá todas as operações urbanas, todo o desenvolvimento social, transporte, educação, saúde, enfim, todas as áreas carentes que lá existem, para aí sim abrigar a Copa. Agora, abrigar a Copa lá é mais ou menos como aqueles eventos que você... “Ah, não tem segurança no Rio”, aí se cria uma segurança artificial enquanto o evento dura. Acabou o evento, acabou tudo, então, acho que vai ser mais ou menos assim, depois a Zona Leste vai voltar a ser a Zona Leste de sempre. Gostaria que fosse fomentado o desenvolvimento lá em dez anos, após dez anos, aí sim ter um grande evento lá apoiado em uma infra-estrutura já conseguida. Por que construir estádio sob a sombra de um futuro desenvolvimento é enganação.

É arriscado também?

O evento vai sair, por que põe polícia, cria corredor com batedor, faz uma série de intervenções excepcionais na região e funciona. Funciona em Interlagos, funciona em Pirituba, se fizer lá. Acabou o evento, volta tudo à estaca zero.

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