sábado, 2 de julho de 2011

Entrevista: arquiteto Sérgio Coelho

O arquiteto Sérgio Coelho, autor do projeto Arena Pantanal, estádio do Mato Grosso que receberá jogos da Copa do Mundo de 2014, falou exclusivamente com o Brasil Diário e contou algumas novidades que as arenas da Copa terão.

Sérgio, que conhece estádios da África do Sul, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, dentre outros, ainda conta os problemas que o Brasil precisa solucionar para promover um Mundial organizado. Além disso, ele fala sobre os riscos das cidades-sede ficarem com um "elefante branco" após o maior evento de futebol do planeta.

Leia no bate-papo a seguir.





Você conheceu estádios em outros países. O que o Brasil precisa fazer para ter uma estrutura decente para a Copa?
Primeiramente o próprio estádio. É fundamental, e talvez até tenha uma polêmica nessa questão, que é o que nós temos hoje no Brasil como estádio e o que significa um equipamento desse tipo no nível de Copa do Mundo. Comparando com estádios da Europa e até dos Estados Unidos, no ano passado eu tive a oportunidade de conhecer o estádio Red Bull Arena, em Nova York, são estádios de uma geração totalmente diferente da que estamos acostumados no Brasil. Assistir jogo de futebol hoje no Brasil é radicalmente outra sensação, outra experiência.

Quais são as diferenças que você notou nesses estádios da nova geração?
Primeiro tem a questão que é fundamental no estádio que é a relação de segurança e conforto. Segurança do ponto de vista de você conseguir entrar e sair do estádio de maneira segura, sem tumulto, sem confusão, que todos esses estádios da nova geração têm. Os europeus, principalmente, seguem as normas inglesas com relação à segurança de equipamentos esportivos, que tem na sua base todo o problema que a Inglaterra teve com problemas de torcida anos atrás. Isso tudo foi lição, inclusive com mortes e tragédias, que os ingleses foram aprendendo e acabaram instituindo essa norma que basicamente é adotada no mundo todo, adotada pela própria Fifa. Hoje, no Brasil, o Corpo de Bombeiros está adotando a norma inglesa, então, significa que você tem que ter acessos no estádio, seja por escada, escada rolante, elevadores ou rampas, que possibilitem ter, no máximo, de oito a doze minutos, por exemplo, de escoamento do estádio. No caso da Arena Pantanal, estamos com oito minutos. Isso significa que você vai entrar e sair no estádio de maneira segura e confortável. Tem toda a parte de equipamento, de banheiros, de circulação, áreas de alimentação, que dão conforto para o usuário. Hoje, no Brasil, é escandaloso o que acontece nos estádios, seja no Pacaembu, seja no Morumbi, seja com raríssimas exceções, mas 85% dos estádios do Brasil não dão o menor nível de conforto tanto em um jogo de futebol como em um evento artístico qualquer. Por exemplo, o show do U2 no Morumbi, é um caos total o banheiro, eu fui ao show e você vê mulheres usando o banheiro dos homens por que não tem condições de usar o banheiro de mulher, chega num certo momento que vira um caos completo. Essas são coisas que os estádios de nova geração atendem, o número de sanitários, o número de locais para alimentação, para compra de camisetas e outras coisas. E logicamente, tem a relação fundamental que é o público, o torcedor, com o espetáculo, com o jogo de futebol. Entrando em uma Allianz Arena ou em qualquer grande estádio moderno, mesmo na África do Sul, ou até estádios menores, como Port Elisabeth, você tem sensação da proximidade da arquibancada com o espetáculo, costumo dizer que é quase como você entrar em um teatro. Acho que a diferença é ir ao futebol e ir a um espetáculo. Com a profissionalização do futebol, o futebol virou business. Hoje, Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, em nível brasileiro, são pop stars. A relação que tem é relação de espetáculo. A proximidade da torcida com o gramado é uma coisa incrível. Os estádios brasileiros são da década de 70 e têm problemas gravíssimos. A distância que você está do jogo, tem a questão de visual mesmo, você vê o jogo de maneira inadequada, às vezes você vê uns pontinhos que você acha que é o jogador “xis”, você não consegue nem ver o número da camisa. Tem essa questão do visual e tem a questão da experiência, do feeling da coisa. Isso são coisas que diferem radicalmente, a questão da infraestrutura do conforto e da segurança e como você frui o espetáculo de futebol.

Essas regras serão adotadas agora?
Sim, os requerimentos da Fifa norteiam tudo isso que estou dizendo. Todas as questões que falei, desde acesso, conforto, toda parte de apoio, seja com atendimento de emergência, segurança, controle por câmeras de TV, segurança de Polícia, toda essa infraestrutura é parte dos requerimentos da Fifa. Todos os doze estádios que estão sendo construídos ou reformados para os jogos da Copa do Mundo de 2014 terão a mesma coisa. Logicamente que alguns estádios, que são basicamente os estádios com reforma, vão ter adaptações que são possíveis. Inclusive, nas reformas, entenda-se Mineirão, Maracanã, o próprio Beira-Rio, essa questão da proximidade será resolvida. Por isso que quase todos os estádios estão demolindo o anel inferior da arquibancada. Outra questão fundamental é a da visibilidade, ou seja, não só a distância entre o espectador e o gramado, mas também a curva de visibilidade que se deve ter. Cem por cento dos lugares sem nenhuma interrupção de visão. Na maioria dos estádios do Brasil, não só no país, mas afora também, não é raro você sentar e a cabeça da pessoa sentada à frente cobrir uma parte do gramado. Isso é muito claro no requerimento da Fifa, é uma questão geométrica, tem uma fórmula para fazer isso que é exatamente a mesma coisa que se faz quando se projeta um teatro, você tem que garantir que a pessoa que está pagando o ingresso veja 100% do espetáculo. Esses doze estádios vão ter isso, por isso aconteceu muito de ter que demolir a arquibancada, mudar a geometria da arquibancada, rebaixar o gramado, é uma maneira nos estádios existentes para conseguir mudar o ângulo de visibilidade.

No ano passado, o projeto da Arena Pantanal foi premiado pelas questões da sustentabilidade. Quais são as credenciais para que ela tenha ganhado esse prêmio?
Nós temos duas premiações, no Brasil e na Inglaterra, e sem dúvida nenhuma, um dos diferenciais do projeto é a questão da sustentabilidade entendida de uma maneira holística. Ou seja, desde o princípio fundamental da Arena Pantanal, que é permitir que haja flexibilização de capacidade, o projeto que a gente fez atende a necessidade de 43.600 lugares para a Copa do Mundo, permite que após a Copa haja uma redução para até 28 mil lugares com desmontagem das arquibancadas superiores Norte e Sul, atrás dos gols. O operador que o Governo do Mato Grosso está negociando nesse momento vai decidir, em função do negócio dele, se vai continuar com essa capacidade ou se vai diminuir. Isso permite que a gente evite ter um elefante branco em Cuiabá. É lógico que essa demanda vai ser calculada e aí é uma questão do negócio que vai ser feito lá. Nós acreditamos, ao fazer o projeto, que dar essa flexibilidade ao operador vai permitir que ele seja sustentável financeiramente. Um estádio de 28 mil lugares em Cuiabá faz sentido, e tem que lembrar que ele é uma arena multiuso, não vai ser apenas futebol que será realizado lá. O projeto de legado para a Arena Pantanal prevê que haverá um centro de convenções, haverá uma série de outros usos dos equipamentos que vão permitir que ele seja usado constantemente. Essa é a primeira questão nossa, a segunda que tem a ver com sustentabilidade é o fato de o projeto da Arena Pantanal não ser apenas o estádio. Ele é, na verdade, um parque, são 300 mil metros quadrados, uma área já ocupada da cidade, próxima ao centro, uma área que estava subutilizada, o estádio Verdão era nesse local. Já foi construído um ginásio de esportes, o Aecim Tocantins, moderno, uma obra recente. Tudo foi pensado para que esse conjunto todo funcione como legado. Esse parque terá restaurantes, choperias e uma série de equipamentos públicos que serão utilizados pela comunidade independentemente do futebol. Também tem a questão da requalificação urbana, na verdade foi uma decisão tomada, desde a questão de custo, mas também a questão de urbanismo, que foi uma decisão do Governo do Mato Grosso, mas a gente deu apoio técnico para isso, de não fazer um estádio novo, havia a possibilidade de fazer um estádio novo em outra região da cidade, mas usar essa área, que já tem locação para isso, tem infraestrutura, transporte, água, esgoto. É uma área que já está urbanizada, mas subutilizada, quer dizer, a Arena Pantanal servirá como um polo de requalificação dessa área da cidade. Pensar nisso também contribuiu muito, nesse caso das duas premiações, para quem visse nessas qualidades algo de diferencial, na questão urbanística. Ai temos as questões especificas de eco-eficiência. A Arena Pantanal está passando pela certificação Leed, que é uma certificação americana, mas é usada como padrão internacional para edificações eco-eficientes.

O que é essa certificação?
Leed significa Leadership in Energy and Enviromental Design (Liderança em Energia e Design Ambiental), basicamente é uma metodologia que pontua itens em um edifício, que pode ser um estádio, um prédio residencial, uma casa, um shopping center, que parametrizados, provem que existe uma economia de consumo de água, de luz e uma série de outros itens que têm a ver com a relação desse prédio e a cidade, por exemplo, o uso de bicicletas, áreas verdes, sombreamento, uma série de coisas. Para ter essa certificação, é necessário pontuar em uma série de itens. Tem que comprovar, por exemplo, que existe uma economia de no mínimo 10% de consumo de energia entre um projeto feito de maneira, digamos, convencional e um projeto eco-eficiente. Tudo isso nós atingimos, temos economia de água, temos economia de luz, toda água pluvial é guardada, tratada e reutilizada nas bacias sanitárias e na irrigação do gramado, por exemplo, uso de ventilação natural. Tem uma série de itens que a gente conseguiu pontuar e conseguimos os créditos necessários. Agora a certificação continua avaliando a obra, que tem que ser feita de maneira que os impactos no meio ambiente sejam minimizados, desde ruído, geração de poeira, e que tudo que a gente projetou seja construído de fato. Depois da obra pronta é feita uma avaliação se todas as performances que a gente projetou, com relação à economia de ar-condicionado, de lâmpadas, a gente está usando led na maior parte da iluminação, por exemplo, se tudo isso está realmente funcionando. Feito isso, a certificação é dada. A Arena Pantanal será um dos primeiros estádios a ter a certificação no mundo, outros estádios da Copa também estão passando por esse processo, mas certamente a Arena Pantanal é o que está mais adiantado e, fora dos Estados Unidos, certamente será o primeiro. A diferença é que com a certificação, não fica só a intenção de ser verde, de ser ambientalmente correto, é comprovado por que são parâmetros claros, são tabelas que devem ser cumpridas.

Você tem acompanhado o andamento das obras não só na Arena Pantanal, mas de outros estádios do Brasil?
O da Arena Pantanal certamente, tem gente nossa em Cuiabá, a gente vai para lá constantemente, ou eu ou a minha sócia Alessandra. Existia um atraso na obra de Cuiabá em função de chuva no começo do ano, se não me engano são 110 dias de atraso. Existe uma razoável tranquilidade que esse prazo vai ser recuperado, e eu acredito que sim, não é uma coisa absurda em termos de atraso. É meio difícil comparar com outros, por que existe uma competição, inclusive a própria imprensa estimula um pouco isso, “esse está na frente, não, outro está na frente”, é diferente, por que não dá para comparar um estádio feito do zero com uma reforma. No caso de Cuiabá, toda a obra de fundação está praticamente pronta, o módulo de arquibancada Oeste já está na segunda laje, já é possível ver realmente o estádio sair do chão, já tem bastante coisa construída. Agora será exponencial a velocidade de construção, por que os elementos de concretos são pré-moldados e estão sendo fabricados lá. Então, na medida em que a fábrica de pré-moldado conseguir entrar em uma velocidade cruzeiro, é sair montando. É isso e outro processos que o pessoal do consórcio, junto com a Gecopa e a gerenciadora, estão estudando de agilizar a obra, eu acredito que eles vão conseguir atender o prazo de contrato, que é dezembro de 2012, o que credenciaria Cuiabá a receber a Copa das Confederações. Isso vai ser decidido pela Fifa, inclusive a Fifa tem acompanhado, com o pessoal técnico deles, muito de perto a evolução das obras e a decisão que vai ser tomada em julho em relação às sedes tem muito a ver com isso. O que eu sei das outras é o que eu tenho lido na imprensa, às vezes eu troco figurinhas com colegas. Tem casos que estão bem mais atrasados, como Natal, que das onze é a mais atrasada. Tem casos como Belo Horizonte e Cuiabá, que estão indo bem, parece que na Bahia também o negócio está indo bem. No geral, acho que não tem muito problema para a Copa de 2014, acho que vai ter estádio que vai ficar pronto na véspera, como o Maracanã, que deverá ficar pronto no começo de 2014. E logicamente tem a questão de São Paulo, que é um caso a parte e é muito complicado falar qualquer coisa. A rigor, se a obra for essa, se realmente o estádio do Corinthians em Itaquera sair, ainda dá tempo e provavelmente ficará pronto, logicamente não ficará pronto para a Copa das Confederações, é impossível, mas é provável ficar para a Copa. Eu acho que com relação ao estádio não é exatamente o grande problema, o problema maior são todas as outras questões de infraestrutura, de mobilidade, de infraestrutura de cada cidade, começando obviamente pelos aeroportos, que é um tema mais complicado. Mas acredito que durante a Copa do Mundo será dada uma solução brasileira. Fala-se dos modos operacionais, que na verdade são tendas provisórias que serão montadas. Eu acho que vai acontecer muito isso, inclusive Guarulhos acho que vai operar com essas tendas. Eu não gostaria, como brasileiro, que isso acontecesse. Tendo visitado a África do Sul antes da Copa e tendo ido à Copa do Mundo, apesar dos problemas que aconteceram, duvido que teremos um aeroporto como o de Johanesburgo tão cedo, e não digo nem para a Copa. A questão dos aeroportos, na verdade, não tem nada a ver com a Copa. Eu sou um arquiteto, que independente de estar fazendo o projeto do estádio de Cuiabá, eu tenho projetos no Rio, em Recife, tenho projetos no Brasil inteiro de outros temas e viajo bastante. Hoje já é um problema. Nós temos um problema de aeroportos no Brasil mesmo que não tivesse Copa do Mundo ou Olimpíadas, aliás, é o de menos, é um mês e com alguma criatividade e com a paciência de quem vier, temos que lembrar que a Copa do Mundo é um momento festivo e com o jeitinho brasileiro e com a nossa simpatia, isso até se leva. É só o gringo acreditar que está chegando num lugar exótico, a gente bota lá umas palmeiras e uns coqueiros em uma tenda e ele vai achar ótimo, maravilhoso, por que vai estar chegando no meio da selva. Estou fazendo piada, mas acho que e mais fácil de resolver. O problema nosso é que até 2014 nós não vamos ter aeroporto, eu tenho que trabalhar, eu tenho que viajar, como “n” pessoas têm que fazer, e nós temos problema de infraestrutura no Brasil, de aeroporto, de trem, de mobilidade.

Você citou os "elefantes brancos" e o problema de infraestrutura. Os governos poderiam ter escolhido cidades com mais tradições no futebol e ter feito outras obras de infraestrutura em cidades com menos tradições nesse esporte?
Essa é uma questão bastante delicada. A decisão das sedes não tem muito o que dizer, por que foi uma decisão tomada em conjunto pelo Comitê Organizador do Brasil e pela própria Fifa, como isso foi decidido, como a geografia foi definida. Eu lembro de um seminário da Fifa em que o Ricardo Teixeira apresentou as doze sedes e fez um paralelo da geografia das sedes com a geografia do Brasil. Isso é fato, se pegar um mapa do Brasil e ver onde vai ter jogos da Copa do Mundo, você vai, de uma maneira ou de outra, estar cobrindo todas as regiões, inclusive com o Centro-Oeste, fora Brasília, mas com Cuiabá, e na própria região amazônica, na região Norte, com Manaus. Então, se esse foi o critério, se foi critério político, eu não sei dizer e não sou a pessoa para falar isso, é uma pergunta para se fazer para a própria Fifa. A questão de que, por exemplo, Manaus não tem times e não tem uma tradição no futebol tão grande quanto Belém é fato, não tem. Não sei exatamente o critério, a não ser essa questão da geografia, que eu entendo, realmente conseguiram, se pegar os pontinhos, o Brasil está todo coberto, lá do Sul de Porto Alegre até Manaus. Com relação a elefante branco, é um perigo, é uma coisa delicada. É fácil falar de elefante branco em Manaus, em Cuiabá ou em Natal, logicamente em nosso projeto, a gente teve a responsabilidade fazer um projeto que tem tudo para não ser um elefante branco. A solução que a gente adotou em Cuiabá não é invenção nossa. O estádio Olímpico de Londres, acho que é o maior caso de elefante branco possível é comparar Pequim, com o Ninho de Pássaros, e Londres, falando de Olimpíada em países com dinheiro suficiente para fazer o que quiser. Está lá o Ninho de Pássaros, que recebe turistas, é um ponto turístico muito visitado em Pequim, lindo, maravilhoso, acho um projeto genial, obviamente com uma capacidade muito acima do que é razoável para o uso dele. Duvido que tenha meetings de atletismo em Pequim suficientes para encher aquele estádio, ou shows, então não vai encher. Londres tem uma postura totalmente diferente. O estádio Olímpico de Londres já está pronto para o ano que vem, são 85 mil pessoas para as Olímpiadas do ano que vem, depois vai ficar com 20 mil e é o estádio que vai ser usado pelo West Ham, que ganhou a concorrência para ficar com o estádio. Sessenta e cinco mil lugares somem, vão ser desmontados e vendidos. Nós usamos a mesma solução em Cuiabá, a diferença é que os 15, 17 mil lugares que vão ser desmontados do estádio devem ser montados em outros estádios menores no Mato Grosso, essa é a ideia da Gecopa. Vai ter um centro de treinamento em Várzea Grande, por exemplo, que vai ter cinco mil pessoas durante a Copa do Mundo, vai poder ter 15 mil pessoas depois com a remontagem das arquibancadas metálicas. Nós pensamos isso em Cuiabá. Não há, pelo menos hoje, demanda para 45 mil pessoas em Cuiabá. A Fifa tem uma estratégia de fomentar o futebol. Teve Copa do Mundo na Coréia, nos Estados Unidos, na África do Sul. Por quê? São mercados, é um negócio e a Fifa está desenvolvendo o mercado. O Brasil já é um mercado, mas é absolutamente desqualificado. Já ouvi em algumas reuniões que uma das intenções da Fifa com a Copa do Mundo no Brasil é qualificar o mercado de futebol do Brasil, isso significa a administração dos clubes ser profissionalizada, os estádios, os equipamentos serem decentes, por que o mercado do Brasil é gigantesco no futebol, poderoso, e a Fifa tem interesse nisso. Óbvio que também tem outro aspecto, na hora que você coloca um estádio em Cuiabá e os empresários, como tem acontecido lá, já falam em investir dinheiro, já tem clubes novos no Mato Grosso surgindo, o campeão desse ano é um clube relativamente de pouca tradição, isso deve acontecer também no Amazonas, é uma maneira de falar: o estádio vai incentivar, o legado vai estimular o próprio futebol local. E também tem o perigo comercial. O estádio de Manaus será viável depois da Copa? Eu tenho minhas dúvidas, como o de Natal, o de Brasília talvez seja um caso mais lapidar ainda, pois são 75 mil pessoas, se não me engano, para uma cidade com pouquíssima tradição, ai tem shows, etc., mas mesmo assim, são coisas delicadas. Tem estádios até construídos, se pensar no Maracanã, no próprio estádio Itaquera, por exemplo, ele não vai, são raros os jogos, hoje, no Brasil, envolvendo os clubes top do Brasil que dão 60, 70 mil pessoas. Tem casos meio folclóricos, como o Bahia, ou às vezes até em Belém, mas são casos muito específicos, na média, nenhum estádio da Copa do Mundo vai ficar cheio, nem Mineirão, nem Fonte Nova, nem o novo em Recife, que é um caso mais complicado, estão fazendo um estádio novo, com estádios dos clubes existentes. Agora, é uma análise caso a caso e a intenção de se fazer Copa do Mundo não é só esportiva. Eu vejo, no caso especifico do Mato Grosso, uma questão que tem a ver, obviamente com o esporte, com atividades culturais e de lazer na Arena Pantanal, tem a ver com a questão cívica, ter o envolvimento da comunidade em um evento global, e tem a ver até com a questão do turismo. Logicamente, vou pegar três casos que têm a ver com a questão da tradição do futebol, Natal, Manaus e Cuiabá são cidades com potencial turístico gigantesco. Não há campanha publicitária no mundo que vá colocar Manaus ou Cuiabá ou Natal na mídia como a Copa do Mundo. O destino Pantanal, o destino Chapada dos Guimarães, vários destinos turísticos no Mato Grosso são importantes, tanto que a estratégia montada para a Copa do Mundo em Cuiabá passou para a Secretaria de Turismo. É uma maneira que tem lógica e tem razão de ser de tudo o que está sendo feito lá. Risco sempre tem, poderia ser um estádio de 30 mil pessoas que não vai ter público, por exemplo, pode pegar hoje o que tem de estádios no Brasil que não têm uso. Tem a Arena Barueri, que agora tem até uso, por que na verdade está construindo a Arena do Palestra, está uma situação meio atípica em São Paulo, mas há “n” estádios no interior que têm esse problema. A questão estádio, futebol e política é um triângulo complicado no Brasil, todo mundo sabe disso, não é tão simples assim.

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