quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ponto de vista

Uma das áreas que acho mais fascinante e, um dia, pretendo mergulhar nesse mundo, é a psicologia. Acho sensacional poder enxergar melhor o que as pessoas querem dizer através de suas ações, gestos, olhares e expressões, e mais, quero aprender a ler as entrelinhas, entender além do que foi dito.

Vivendo e aprendendo, vou observando tudo que posso, como todo bom jornalista tem que fazer.

Essa semana, o Jornal O Estado de São Paulo deu um "furo": conseguiu obter os números da criminalidade no estado de São Paulo antes que a Secretaria de Segurança Púiblica os divulgasse oficialmente.

E a mídia toda abocanhou essa pauta. Emissoras de Rádio e TV, blogs, sites, todos aproveitaram o interessante tema.

Há alguns anos o estado vem acompanhando uma queda em alguns itens da criminalidade. Mas, em 2009, houve um recorde de roubos no estado de São Paulo, como divulgou o jornal (leia a matéria clicando aqui).

Porém, quando o Governo publicou os números, a manchete foi outra: os índices de criminalidade do 4º trimestre de 2009 confirmam tendência de queda (confira a matéria clicando aqui).

A questão que o cidadão fez após ler as duas manchete foi: "quem está certo? Quem está errado?"

Na verdade, ambos estão certos. O que diferencia os textos são os focos.

O Jornal utilizou números que realmente cresceram, como o de roubos, que subiu de 248.406 casos em 2008 para 257.004 ocorrências em 2009.

Já a Secretaria de Segurança optou por destacar os índices que apresentaram queda, como o número de carros roubados: no quarto trimestre de 2008 foram 16.647 e em 2009 foram 16.028.

Tudo depende do ponto de vista.

Como jornalistas, ou órgãos públicos, temos que mostrar os dois lado da moeda e a população tirar suas próprias conclusões.

Outro exemplo foi a conta feita hoje pela apresentadora de um programa jornalístico da Rádio Eldorado (que pertence ao mesmo grupo do Estadão). Ela fez a seguinte conta: pegou o número de assaltos e dividiu pela quantidade de dias em um ano. O resultados foi o seguinte: aproximadamente 704 roubos por dia. Um número assustador.

Mas, a apresentadora não levou em conta o seguinte detalhe: são 645 munícipios em São Paulo. Fazendo mais uma continha simples, chegamos à média de 1,09 roubos por dia em cada cidade. (704 roubos dividido pelas 645 cidades). Um número que não causa tanto impacto quanto o outro.

Tudo depende do ponto de vista. Pode ser um número assustador, terrível, ou pode ser um número que gera esperança, que mostra uma realidade possível de ser melhorada. Isso varia de acordo com a intenção de quem está escrevendo a matéria.

O que não muda de acordo com a opinião são os números. É um índice alto. Viver em São Paulo gera insegurança e, todo dia, eu olho bem para os dois lados da rua antes de abrir o portão para sair de casa.

Ando sempre olhando para todos os lados, tentando me antecipar a uma possível tentativa de assalto. E fico ainda mais preocupado pois quase não vejo viaturas perto a minha casa e sempre fico sabendo de novas vítimas de criminosos no bairro.

Um dia um fica sem carro, outro dia outro fica sem carteira e celular. Um dia uma mulher vê sua bolsa sendo levada, no outro dia um imóvel é invadido. E não estou inventando histórias. Um dia foi a minha noiva que ficou sem a bolsa. Outro dia foi a escola onde minha mãe trabalha que foi invadida. Um dia fui eu quem ficou sem celular. Outro dia foi a chefe da minha mãe que teve o carro roubado.

A Polícia parece não saber como agir para prevenir o crime, pois ela sempre chega depois.

A população não acredita que terá seu bem devolvido e muito menos que o criminoso será preso.

Enquanto isso, os jornais estampam o caos e o Governo espalha a esperança.

Um comentário:

Juliana Petroni disse...

Acredito que o papel da imprensa é realmente alertar a população, porém essa indústria do medo não é o caminho. Belo texto, parabéns!!!
Beijos