sexta-feira, 17 de junho de 2011

Entrevista: deputado estadual Luiz Moura (PT-SP)

Entrevista realizada no dia 25/05/2011 para o Brasil Diário.





O deputado estadual Luiz Moura (PT-SP) afirma que a cidade de São Paulo estará preparada para receber a abertura da Copa do Mundo durante entrevista exclusiva ao Brasil Diário.

Moura ainda comentou a situação dos aeroportos e defendeu a criação do TAV - Trem de Alta Velocidade. O petista também analisou a criação do PSD e disse que José Serra pode ser o candidato desse novo partido à prefeitura de São Paulo em 2012.



Para ler a entrevista na íntegra, basta clicar no link abaixo.




Por que a cidade de São Paulo está tão atrasada em relação às obras para a Copa do Mundo?
Primeiro eu não acho que São Paulo está atrasada com as obras para a Copa. O que estava tendo eram algumas especulações. Segundo que teve dificuldades com liberação de área, de terreno, dutos da Petrobrás que passavam sob o campo do Corinthians, negociação com a sociedade civil, reassentamento de famílias que estão em áreas públicas, discussão dos investimentos que vão para a região de Itaquera. Eu não acho que está atrasado. A gente sabe que o Corinthians acertou a questão da liberação dos recursos do BNDES, os R$ 400 milhões que o BNDES vai arrumar, o Corinthians também tem uma parte desse dinheiro, que são cerca de mais de R$ 300 milhões e mais R$ 200 milhões da iniciativa privada. Eu participei de algumas audiências públicas e a gente percebeu que a coisa está andando. O Corinthians, no mais tardar agora em junho ou julho, começa as obras do Itaquerão. Acho que nós vamos chegar em 2014 com estádio pronto e preparado para a Copa. Não vejo tanta dificuldade como algumas pessoas estão colocando.

São Paulo estará pronta para a Copa, inclusive para a abertura?
Não tenho dúvida nenhuma disso. Lógico que tem muita gente que tem o interesse de levar para o Morumbi, falam-se agora em levar a abertura para a Baixada Santista, fala-se em construir aquele estádio que o Kassab queria fazer na Zona Norte, o Piritubão. Então, são várias opções que você vê as pessoas falarem, mais ou menos ligado na vontade de querer tirar o Itaquerão, querer tirar a Zona Leste. Acho que são mais especulações e o estádio vai sair a tempo para a Copa.

Por que você acha que há o interesse de tirar o estádio da Zona Leste?
Por que todo mundo acha que a Zona Leste, aliás, há uma discriminação grande com relação à Zona Leste, tem muita gente que acha que lá é um lugar onde as pessoas não são civilizadas. A Zona Leste sempre foi marginalizada. Existe essa coisa de achar que o povo que é da Zona Leste não está preparado para receber a Copa do Mundo. Na verdade, eu acho que é uma certa discriminação. Mas a Zona Leste está preparada. Falta obra de investimento público, tem que fazer bastante investimento, e é isso que nós vamos cobrar do Governo do Estado, fazer com que as obras venham, com que os recursos sejam liberados, que as obras sejam feitas, para que a gente tenha uma abertura da Copa com grande estilo. Nós temos condições e vamos conseguir fazer isso.

Uma das declarações do deputado Cauê Macris é que a Dilma não gosta de São Paulo e está tentando tirar a Copa do estado por causa da derrota nas urnas paulistas na eleição presidencial. Como você vê essa acusação?
Tem que mandar quem disse isso ver a proporcionalidade, a proporção de votos que a Dilma teve em São Paulo comparando com outros estados, tenho certeza que é muito maior. A Dilma nunca disse que não gosta de São Paulo, muito pelo contrário. O Governo Lula era um governo mais ligado às bases, aos sindicatos, às entidades, às associações, o Lula era mais povão. A Dilma não, a Dilma é um pouco mais organizada, mais atrás de mesa, mas ela falou que quer ter um olhar clínico e especial por São Paulo. O Lula se preocupou mais com o Norte e Nordeste, a Dilma não, a Dilma falou que a atenção dela especial está exatamente no estado de São Paulo, exatamente ao contrário do que disseram.

O que falta para a cidade de São Paulo ficar pronta para receber a Copa?
Faltam os investimentos públicos, temos que cobrar do Governo municipal, do Governo estadual. Ali, se pegar, por exemplo, Itaquera, é um bairro em que falta tudo. Não só Itaquera, quando a gente diz Itaquera, a gente fala da região: Guaianases, Cidade Tiradentes, São Mateus, São Miguel, Itaim Paulista. Toda aquela região, falta obra de infra-estrutura. Se formos fazer uma avaliação de seis, sete anos para cá, nós não vimos uma grande obra naquela região. Aquela região ficou abandonada, você não vê uma grande obra de infraestrutura. Por exemplo, a questão do transporte público. Está caótico, o metrô está saturado, não tem mais condição, de tanta demanda de passageiro. O transporte coletivo, de mobilidade urbana, está superlotado, carregado. Você vai nos horários de pico, seis horas da manhã, ou seis, sete horas da tarde, você vê que as pessoas não têm mais condições de embarcar no transporte público, ou seja, faltou investimento, precisa de infra-estrutura, de transporte, de mobilidade urbana. É lógico, que qualquer bairro e qualquer região vai ficar para trás. Quando não investe, a gente sabe que a maior probabilidade é chegar ao caos. É o que está lá, a Zona Leste está hoje um verdadeiro caos por falta de investimento do governo municipal e do governo do estado.

Quanto vai ser investido em São Paulo pelo Governo Federal até 2014? E qual a explicação para o aumento do valor da construção do estádio do Corinthians, que saltou de R$ 300 milhões para um bilhão?
Lá é o seguinte. Ainda no Governo Lula, a estimativa do Corinthians era construir um estádio para 45 mil torcedores, mas depois de trazer a abertura da Copa do Mundo para São Paulo, a Fifa exigiu que o estádio tenha capacidade mínima para 65 mil torcedores. Para ampliar, para aumentar esses 20 mil torcedores, é lógico que a obra iria custar mais caro. O Governo Federal, através do BNDES, destinou R$ 400 milhões ao Corinthians, que é o máximo que o BNDES faz de empréstimo para qualquer tipo de instituição. O Corinthians tem outra parte do dinheiro e outra parte vai sair da iniciativa privada. Ou seja, o estádio vai custar mais caro por conta dessa ampliação de lugares, vai ser um estádio maior, obviamente fica mais caro, por isso que ampliou, mudou de preço.

Mas essa ampliação de 20 mil lugares justifica o aumento de quase o dobro da verba ou tem alguma outra obra ao redor, como infra-estrutura, que tenha puxado essa conta para cima?
Isso é obra do Estado, quem vai ter que investir fora são os poderes executivos, a Prefeitura e o Governo do Estado. O Estado anunciou que vai investir R$ 476 milhões em torno do Corinthians e nós estamos discutindo o que é emergencial, quais são as prioridades para a região. Mas o que o Corinthians vai gastar é recurso do Corinthians junto com o BNDES e, logicamente, com a iniciativa privada, que são os parceiros do Corinthians.

Tem sido muito discutido desde o ano passado, se seria melhor investir no TAV (Trem de Alta Velocidade) ou aplicar a verba no Metrô. Qual sua opinião sobre isso?
Por exemplo, o Rodoanel. No Rodoanel vão se gastar, fala-se, seis bilhões de reais, o que dá para construir 50% de Metrô que nós temos em São Paulo hoje. Seis bilhões, você faz, exatamente, cerca de 30 quilômetros de Metrô. Falta Metrô. Você pega no horário de pico e vê quem consegue embarcar na Praça da Sé. O Metrô começou a ser construído em São Paulo em 1973, mais ou menos. Na Cidade do México, foi em 1972, mais ou menos, e lá, hoje, tem mais de 200 quilômetros de metrô. Nós temos 67 quilômetros. Quando não se faz investimento, a tendência é chegar na situação que está. Faltam corredores de ônibus, falta Metrô. Estão criticando o TAV, o trem de alta velocidade, que está sendo feito pelo Governo Federal, dizendo que é dinheiro jogado fora, mas lá na frente, essas pessoas que dizem isso vão dizer exatamente o contrário e vão saber a importância de ter essa ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro, isso vai fomentar a indústria, o comércio. Para a Copa do Mundo, se esse trem estiver pronto, e creio que deverá estar, o TAV deve estar pronto até 2014, para a Copa do Mundo vai ser um diferencial. Às vezes, quem fala contra é por que é oposição e quem está acompanhando os trabalhos de perto, tenho certeza, terá a mesma opinião que outros.

Para deixar mais claro, você acha que deve-se investir no TAV ou no Metrô? O Governo deve fazer esse investimento ou fazer uma PPP (Parceria Público-Privada)?
O Governo já está investindo no Metrô. Desses cinco, seis bilhões de reais, pelo menos 30% é o Governo Federal quem está mandando, que vai ser construído o Rodoanel. No Metrô, apesar do Governo do Estado afirmar que o Governo Federal não manda recursos e não ajuda, mas 20, 30% de todas as obras de Metrô, de todo o serviço de Metrô que é executado no estado de São Paulo, é o Governo Federal que manda. O TAV, praticamente, o dinheiro vem do Governo Federal. O Governo Federal está preocupado com São Paulo, está preocupado com a Copa do Mundo e tem feito seus investimentos.

E a questão dos aeroportos? Alguns falam em construir um terceiro aeroporto em São Paulo, outros defendem a ampliação de Viracopos. Qual é a melhor alternativa?
Nos últimos dias, o Governo Federal está defendendo uma Parceria Público-Privada nos aeroportos, não a privatização, não é entregar os aeroportos na mão da iniciativa privada. Mas uma forma de concessão, da mesma forma que é feito com as empresas de ônibus na cidade de São Paulo: as empresas participam de um processo licitatório e a que tiver a melhor proposta ganha a concorrência e vai operar o sistema de transporte na cidade. Isso, inclusive, foi no Governo do PT, no Governo da Marta, que foi feito em 2003, que legalizou e reorganizou o sistema de transporte na cidade. O que o Governo que fazer com os aeroportos é a mesma coisa, é ter esse tipo de parceria, de concessão, para tentar melhorar o serviço prestado à população. O aeroporto de Guarulhos é um dos maiores do mundo, é o maior da América Latina, e é questão de ajuste. O de Viracopos vai passar por reforma e acho que até 2014 vai estar pronto também para a Copa. O de Congonhas, que eu acho que é um aeroporto com uma situação mais complicada por que é uma região urbanizada, mas também deve passar por reforma. E ali também tem mais vôo doméstico, não tem vôo internacional, mas é um aeroporto importante por que vai trazer muitos turistas dos estados brasileiros. Acho que a questão dos aeroportos é uma questão de tempo para ter um aeroporto funcionando de maneira mais adequada.

Só para deixar mais claro, você acha que é mais viável ampliar Viracopos ou construir um terceiro aeroporto em São Paulo?
Acho que se ampliar Viracopos dá para atender à demanda. Criam-se as parcerias, a concessão, e a ampliação tanto de Viracopos como de Guarulhos, que precisa passar por alguns ajustes, como por exemplo, a questão do estacionamento, que hoje está saturado.

Recentemente foi criado o PSD, pelo prefeito Gilberto Kassab. Como você vê o surgimento dessa nova força no cenário nacional?
Isso na realidade é uma válvula de escape. O Kassab criou esse novo partido, a gente imagina, como uma saída, uma válvula de escape para ele poder sair candidato a governador em 2014. Por que se ele continuasse no DEM, a prioridade seria o Alckmin ser candidato à reeleição, pois o DEM é aliado do PSDB e o Alckmin teria espaço. Ele acha que tem condições de ajudar a eleger o prefeito da cidade de São Paulo em 2012, e eu acho que quem deve ser o candidato do Kassab pode ser o (José) Serra, migrando também para o PSD, numa jogada política deles, e em 2014, ele estaria segurando a condição de sair candidato ao Governo do Estado e fazer a disputa com o Alckmin. Acho que essa foi a saída que eles acharam, não sei o que a opinião pública vai achar disso por conta da fidelidade partidária, quem vai avaliar isso são os eleitores. Mas eu acho que foi um tiro no pé, é um partido que todo mundo já entende, já começou por cima, é um partido grande, que está se mobilizando em todo o Brasil. Mas para o Kassab, especificamente para ele, foi um tiro no pé, por que o povo não é bobo e já percebeu essa movimentação dele.

O Serra pode ser o candidato do PSD à Prefeitura de São Paulo?
Ouve-se nos bastidores, não temos ainda essa informação por que o Serra não fala. Mas eu acho, essa é uma opinião pessoal minha, que quem vai ser candidato pelo PSD na cidade de São Paulo vai ser o Serra. O Serra está meio fragilizado dentro do PSDB, ele não tem tido espaço. Ele tentou a presidência do PSDB e não conseguiu, ficou com o grupo do Sérgio Guerra. Ele tentou outros cargos dentro do PSDB e também foi frustrado, não conseguiu. Ele está meio isolado. São dois grupos hoje que mandam no PSDB: o grupo do Alckmin e o grupo do Aécio. E também um pedaço do grupo do Sérgio Guerra. O PSDB parece que está meio direcionado já daqui para frente. É difícil agora o Serra ter espaço, pode até ser que tenha, mas talvez ele não confie no Alckmin, talvez não confie mais no Aécio, por que o sonho dele é ser presidente da República e o PSD daria esse espaço para ele.

Como o PT tem se organizado para a eleição municipal? Você defende algum dentre os petistas mais conhecidos, como Marta Suplicy e Aloizio Mercadante, ou prefere que o partido lance um novo nome?
O PT é um partido grande, é um partido que faz a disputa interna. O PT hoje tem vários nomes que têm a pretensão de fazer a disputa em 2012, um deles, que inclusive é o nome do deputado federal Gilmar Tatto, que se fosse pela minha escolha seria o candidato a prefeito. Mas existem outros nomes fortes, como o (Carlos) Zarattini, como a Marta Suplicy, como o Fernando Haddad, que é defendido pelo Lula. São vários nomes e nós só vamos conseguir chegar a uma definição no ano que vem. Esse ano eu creio que o PT não deve ter um nome certo para fazer a disputa em 2012. Recentemente nós vimos algumas pesquisas e a Marta aparece muito bem, só que quem vai decidir é a militância, o PT na cidade de São Paulo é que vai decidir quem será o próximo candidato. Só sei que nós temos que ter um candidato que seja à altura, que faça o debate, seja com o Serra, seja com qualquer outro candidato de outros partidos, tem que fazer um debate à altura e nós temos que mostrar que o PT governa melhor do que os outros partidos, que tem mais projeto político voltado a todas as classes sociais.

O que precisa melhorar no estado de São Paulo?
Precisa melhorar tudo. Tanto saúde, educação, segurança pública, cultura, lazer e transporte público, principalmente, que vive hoje um caos, não só na cidade de São Paulo, mas em qualquer cidade do interior, onde não se imaginava ter trânsito e hoje o trânsito é caótico. O estado de São Paulo não acompanhou o crescimento do Brasil. O Brasil cresceu e o estado de São Paulo ficou estagnado com as políticas públicas implantadas pelo PSDB.

Um comentário:

You - negócios que faz bem disse...

como ele avalia a segurança pública voltando em 1997 quando ele era assaltante de supermercado e hoje. o que mudou deputado?